quinta-feira, outubro 28, 2004

Só te quero feliz...
Esqueço-me que esquecer-me o impede...

Dir-se-ia que não vejo para além de meu nariz...
Sou do tipo que tudo a seu deus pede...

Na urbe de minha vida,
toda a luz tende e esmorecer...
Surjem vultos em minha mente perdida,
para em sombras se voltarem a dissolver...

E é entre sombras tristes e chuvidas,
que surje tua brilhante imagem...
De cor repleta vens em risos sentidos,
iluminas minha vida, qual arajem.

Mas é em minha consciencia desolidão,
que me teimo em perder repetidamente.
Como um efeito de absorção,
de negativo sentimento incessante.

E tento...

Tento integridade,
tento idade,
tento consciencia,
tento noção,
tento ciência,
tento razão,
tento imaginação,
tento abstracção.

Mas este bloqueio mental
acaba por resular,
na negativa sensação,
no imenso mal estar.

Porque só te quero feliz,
só nos quero como tal...

Mas só pouco consigo...

Consigo imensidão,
consigo solidão,
consigo angustias,
consigo tristeza,
consigo lágrimas...

Tenho andado só,
e inevitávelmente mais só tendo a ficar...
Só queria poder resolver,
só to queria poder explicar.

Só agora to consigo dizer,
só agora me estou a consciencializar.
Só agora o estou a escrever,
pois só escrevendo, na mente, o consigo sintetizar...

terça-feira, outubro 19, 2004

Piromania

Sou uma pessoa estranha... Sou capaz de contemplar uma chama durante horas... No Inverno, a lareira acesa exerce sobre mim um qualquer efeito hipnótico...

Quando me sinto seguro perante o perigo, deixo-me invadir por uma calma e paz de espírito incomparáveis! Seja perante um fogo, seja num temporal, seja numa falésia...

É uma forma de meditação e de contacto com o nirvana tão boa como qualquer outra...

A experimentação...

No carro... Chove suavemente, nada mais que um ínfimo aguaceiro... O vento por sua vez, sopra fortíssimo, talvez pela localização geográfica do local onde me encontro... Mesmo como eu gosto!

Deparo-me com vinte minutos de espera, pelo que ligo a música e, aborrecidamente, constato que deixei o livro, de capa azul forte que ando a ler, em casa... Ligo a música... Millencolin - Pennybridge Pioneers. Enquanto o CD vai avançando, música a música, penso no que posso fazer para ocupar o tempo. Estou farto dos jogos do telemóvel...

Contemplo o tempo fora da redoma! Adoro temporais sem chuva, são dos espetáculos mais poderosos da natureza!

Abro o porta-luvas e a minha luz de esperança incide no meu Moleskine laranja! Sim porque a luz de esperança emerge de cada um, sabem?... Voltando ao Moleskine... Esquecido à cerca de um mês no porta-luvas... Abro-o, e pego na castiça caneta que se queda ao pé do cinzeiro de qualquer carro... Juntos, Moleskine e caneta, servem o seu propósito e permitem-me a criação deste breve texto... Breve porque finda 9 linhas abaixo... Queria desacrever-vos o tempo lá fora... Queria descrever-vos o cheiro do ar lá fora... A sensação do vento na cara e as memórias das surfadas que brotam a cada impacto de chuva fria que entra pela janela... Mas não posso! Não estou lá fora... Não sei...

Abandono o Moleskine, a caneta, a mente... Ficam os três dentro da redoma, e saio em comunhão com o tempo agreste! Estou no temporal e a minha alma inquieta acalma!

Porque a melhor avaliação vai para além da observação, passa pela experimentação.

quinta-feira, outubro 07, 2004

Eu Moldando-se

Sou besta,
sou senão,
sou incerteza,
sou coração,
sou alma,
sou podridão,
sou dor,
sou possessão...

Tomo tudo em meus braços,
por besta me tomo sem pensar.
Por tudo proteger tentar,
me excedo a largos passos.

Tomo metafísico,
tomo amor,
tomo beleza,
e tomo ardor,
tomo da vida a genialidade,
da amizade a simplicidade,
da simplicidade a facilidade
e de quem amo a liberdade...

E é por tão bem querer,
que acabo por asfixiar!
Para me não sozinho ver,
abuso do esforçar.

E abuso de mim,
e abuso de vós,
a quem seria capaz de ceder vida,
a quem roubaria a dor,
para com ela me esconder,
e contra ela por vós ser lutador...

Sou monte de massa em modificação,
e até morrer o serei.
Sei sempre que errei,
custa mais a admissão...

Sou chuva...
Sou monção...
A Besta da emoção...
Sou luva,
de protecção,
cujo latex
corta respiração...

Não me mexo,
fico quieto,
e vejo meus erros
tomar nova forma...

Espero, desespero,
em minha estupida fé vos venero.
Quando dela nada quereis,
quando ela só vos afasta mais...

Sou forca tentando ser força,
sou à força tentando ser prazer...
Não querendo exercer poder,
descontrolo tudo à minha volta...

Descontrolo rimas,
e com isso perco...
Perco valores,
perco melodia,
perco amores,
perco magia,
e perco tudo o que não queria...

Porque já perdi o que tinha a perder,
agora perco aquilo que sei não poder...

Ou serei nada...

À Futura Meca...

terça-feira, outubro 05, 2004

Medos equacionados...

Temo a fugacidade...
Temo a fuga por si só...
Quanto ao avançar da idade,
ja todos sabem...
Não só o temo,
perante ele tremo,
perante ele choro,
contra ele tristemente luto,
e por lutar no ridículo moro!

Temo também o que não tenho,
ou o que deixei de ter...
Não pelo controlo que desdenho,
mas porque de mim me afasto, forçosamente...
Não me encontro,
ando por vezes até de retro,
mente sã em corpo são,
paz de espirito, Yin Yang,
são agora mera ilusão!

Mas tudo isto é temer... Nada disto é ter medo...
Medo é presente, temer é antecipação...
Medo é a constante matemática,
que meus cálculos de vida assombra...
Destroi toda e qualquer equação,
Seja na luminosa prática,
ou na teoria e sua penumbra...

Tenho medo de um dia calcular errado,
que para mim é calcular apenas diferente de ti...
Que calcules divergente de nós,
enquanto calculo convergente o nosso mundo!
Medo que calcules que te perdi,
enquanto me iludo em cálculos de tua voz,
que dizendo "Amo-te" deixam minha lógica em mudo!



Hibernação

Sujo... Sentado em frente ao computador... Calafrios na pele... Odeio os fins de semana prolongados no tempo de inverno... Bem sei que ainda não estamos em tempo de inverno, nem nada que se pareça, mas uma estúpida constipação deprime-me prendendo-me em casa... A secura da mente é impiedosa, sinto-me passa ao sol... Sei porque hibernam os animais...

sexta-feira, outubro 01, 2004

São surtos...

Entro na cama, beijo teus olhos: fechados,
mergulhados
no que imagino que seja um sonho de realidades: por tornar
onde somos um de perfeito: encaixar...
Esboças um subtil e no sono imerso, sorriso,
que se molda em sincero prazer, se eternece,
e eterneço-me eu e meu, nosso mundo, porque de minha tua é: a nossa vida!

E nessa ternura de azul expandida,
beijo-te nos lábios de encarnada paixão,
e o fogo do suavemente tímido toque
acentua a tamanha vermelhidão,
que para mim é mundo de sensualidade,
paraíso de perdição,
onde norte e idade perdem sentido
e o mundo é controlado entre a minha e a tua mão!